9,6 mil reais. Essa é a bagatela que cada uma das 207 vítimas de trabalho análogo à escravidão, resgatadas de vinícolas de Bento Gonçalves, na serra gaúcha, vai receber. Esse é o acordo fechado entre o Ministério Público e os detentores das marcas Salton, Aurora e Garibaldi.
No total, as vinícolas pagarão 7 milhões de indenização, sendo que 2 milhões devem cobrir as indenizações por danos morais e os outros 5 milhões, destinados a entidades e projetos que tenham como propósito a reparação do dano causado.
Trata-se de um dos episódios mais degradantes e bárbaros, pelo menos que se tem notícia na Nova República. Sua face mais visível é o caráter escravagista e fundamentalmente xenófobo, particularmente em relação ao povo nordestino, que em esmagadora maioria conferiu a Lula a presidência do Brasil contra Bolsonaro.
Mas há outras não menos selvagens, que remetem às origens da política brasileira e ressurgem repaginados na forma de um liberalismo tosco e fraudulento, porque atentam contra os direitos mais básicos dos cidadãos, das minorias e dos trabalhadores. Corroem o que há de mais genuíno na alma brasileira e impedem qualquer avanço civilizatório.
Nesses últimos quatro anos regredimos a patamares jamais imaginados. E isso em pleno século 21.
Mal saímos do choque de um episódio como este dos escravizados do vinho e nos deparamos com a realidade de vítimas escravizadas do arroz, mais uma vez em terras gaúchas.
É só a ponta de um imenso iceberg.
Por José Luiz Penna