Mandato Coletivo concede Medalha de Mérito Legislativo à Eneas Salati

Author picture
Eneas Salati. Foto: Fabiano Pereira/USP

Foi aprovado durante a 23ª reunião ordinária, na Câmara Municipal de Piracicaba, o projeto de decreto legislativo 20/2022, da vereadora Silvia Morales – Mandato Coletivo “A Cidade É Sua”, e que concede a Medalha de Mérito Legislativo ao cientista Eneas Salati, ex-diretor do Cena – Centro de Energia Nuclear na Agricultura. “Quero agradecer a votação unânime a esse grande pesquisador da área ambiental”, disse a autora da propositura.

Nascido em Capivari, em 6 de agosto de 1933, Eneas Salati formou-se na Esalq/USP, em 1955. Defendeu o Doutorado em 1958 e teve atuação destacada pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), unidade da USP em Piracicaba em que foi diretor entre 1981 e 1985. Já naquela época, ele destacava o papel da Floresta Amazônica na precipitação da América do Sul. “Os rios voadores levam água ao Centro-Sul”, dizia. 

Nos anos 1970, Salati usou a tecnologia mais avançada da física nuclear disponível até então para desvendar o transporte de umidade na floresta. Em 1976, estimou que mais da metade do balanço hidrológico da região amazônica se devia à evapotranspiração – o “suor das árvores”, pelo qual elas liberam vapor d’água para a atmosfera, tendo escrito “O desmatamento intensivo deve causar alterações no ciclo hidrológico”. 

Em 1979, publicou com três colegas um estudo no periódico Water Resources Research, no qual mostrava que a Amazônia reciclava a própria chuva, mandando umidade de nordeste para sudoeste. 

Em 1968, o agrônomo havia cofundado o Cena em Piracicaba. Era a época da campanha Átomos para a Paz, da Organização das Nações Unidas (ONU), que estimulou o uso da tecnologia das bombas atômicas para fins pacíficos, como pesquisa e geração de eletricidade, quando o Cena adquiriu um aparelho chamado espectrômetro de massa, pelo qual determinava-se a composição química de uma substância pelo “peso” de seus átomos. 

Salati e seus colegas tentaram entender de onde vinham as chuvas da floresta pluvial. Era sabido que a Amazônia recebia umidade do Atlântico em sua porção nordeste, mas como ocorria esse transporte? Um jeito de investigar era olhar para a proporção de oxigênio-18 na água. 

Após o desenvolvimento de pesquisas, a conclusão de Salati foi que a Amazônia “reciclava” a água: a umidade vinda do Atlântico desabava como chuva na floresta, era evaporada pelas árvores e formava novas nuvens, que choviam mais ao sul e assim sucessivamente, os chamados “rios voadores”. Metade da umidade da floresta vinha dessa reciclagem de chuvas, sendo que uma mesma molécula de água era reciclada de cinco a oito vezes.

Na prática, foi uma grande descoberta por explicar como funcionava o ciclo da água na maior floresta tropical do mundo, além da abertura para o desenvolvimento de estudos a respeito do destino daquela umidade. 

O agrônomo e pesquisador foi diagnosticado com mal de Alzheimer leve quatro anos atrás, quando parou de trabalhar, mas levava uma vida normal. Em agosto de 2021, sofreu uma queda em casa, teve um hematoma encefálico e sua saúde se debilitou e faleceu em 5 de fevereiro de 2022, aos 88 anos.

Ele foi cremado e as cinzas espalhadas na Reserva Ducke, uma área de mata do INPA, perto de Manaus (AM). Era casado com Theresinha Zurk Salati e pai de Eneas Salati Filho, Eneida Salati, Elisabeth Salati e Eduardo Salati.

Compartilhe nas redes:
Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Imprimir
Últimas notícias